A RECORDAÇÃO DO HOMEM E DO TOUREIRO
João Mascarenhas
Vamos a caminho de quatro décadas em que José Falcão perdeu a vida na Monumental de Barcelona. Por ironia do destino nascemos no mesmo dia, 30 de Agosto. A astrologia, indica que os nascidos nessa altura pertencem ao signo Virgem. Logo, embora saibamos que somos da terra, buscamos uma utopia, a perfeição, que é um atributo celeste, apanágio dos Deuses. E temos consciência disso. Aprendemos a fazer sem desprezar os métodos entre tentativas e erros, até entendermos os níveis de exigência pessoal. Sabemos muito bem que a perfeição é difícil de atingir, quase impossível; mas não custa tentar, vale a pena fazer um esforço. No bonito percurso profissional de José Falcão, quando se fazia crer que estava mais maduro, mais atento à cornada, custa-nos afirmar que os sentimentos acabaram por vencer a dialética interna, com argumentos ultra lógicos, opondo-se abertamente ao desejo reticente de embarcar no envolvimento. A paixão pelos toiros, a honradez pela profissão foi construída em cima de uma estrutura psíquica bastante forte, foi como que a escolha romântica criteriosamente elaborada, a razão de uma vida. Os que estamos ligados há Festa Brava, sabemos que a manifestação assenta numa arte dramática com a interpretação de sentimentos e paixões, exigente na honestidade de propósitos, perigosa por isso mesmo. O nosso José Falcão resistiu às competições emocionais que desgastam os toureiros, montou a sua vida dentro e fora das arenas com a maior dignidade. A elegância nasce com o indivíduo, não importa em que família ou em que ambiente social. Há pessoas que ultrapassam o nível de educação, de hábitos familiares e emergem para a vida com um comportamento tão apurado e distinto que surpreendem. Têm graça natural nos gestos, nas preferências e atitudes, parece terem herdado a nobreza da humildade. Trazem no sangue e na alma uma simplicidade cativante fruto de uma conduta exemplar. Foi esta a imagem que nos deixou o José Carlos Frita Falcão.
Por isso o recordamos com imensa saudade!
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